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PRIMEIRO-MINISTRO MANIPULA OS NÚMEROS DO EMPREGO

Comunicado de Imprensa n.º 080/13

 

Primeiro-Ministro manipula os números do emprego

1. Na sua mensagem de Natal o Primeiro-Ministro afirmou que “o emprego começou a crescer e, em termos líquidos, até ao terceiro trimestre foram criados 120 mil postos de trabalho”. Esta afirmação é falsa porque omite a destruição de cerca de 98 mil empregos ocorrida no primeiro trimestre. De facto, a evolução do emprego indica apenas uma evolução líquida cerca de 22 mil empregos em 2013:

               Evolução do emprego (mil)

 

Trimestre

Emprego

Variação

 

2012 (4º)

4531,8

 
 

2013 (1º)

4433,2

-98,6

 

2013 (2º)

4505,6

+72,4

 

2013 (3º)

4553,6

+48,0

 

Variação em 2013

 

+21,6

               Fonte: INE, Inquérito ao Emprego

2. Tão importante como conhecer a evolução global e líquida do emprego é avaliar a natureza dos empregos que estão a ser criados. A análise da distribuição do emprego segundo a situação na profissão, em conjunto com a variação do emprego em 2013 em cada uma das categorias, permite ter uma ideia mais clara sobre a qualidade dos empregos criados.

               Emprego segundo a situação na profissão (trimestres, mil)

 

 

4º 2012

1º 2013

2º 2013

3º 2013

Var. total

 

Emprego

4531,8

4433,2

4505,6

4553,6

 
 

Variação

 

-98,6

72,4

48,0

21,8

 

Assalariados

3538,2

3482,5

3523,1

3551,6

 
 

Variação

 

-55,7

40,6

28,5

13,4

 

Contratos sem termo

2816,8

2745,4

2754,8

2780,1

 
 

   Variação

 

-71,4

9,4

25,3

-36,7

 

Contratos não permanentes

721,5

737,0

768,4

771,5

 
 

   Variação

 

15,5

31,4

3,1

50,0

 

   % do total

20,4

21,2

21,8

21,7

 
 

Familiares não remunerados

28,2

26,8

31,1

33,6

 
 

Variação

 

-1,4

4,3

2,5

5,4

 

Patrões

239,5

231,9

221,7

239,6

 
 

Variação

 

-7,6

-10,2

17,9

0,1

 

Trabalh. por conta própria

725,9

692,1

729,7

728,9

 
 

Variação

 

-33,8

37,6

-0,8

3,0

                 Fonte: INE, Inquérito ao Emprego

Daqui resulta que:

  • A maioria dos novos empregos é assalariada, isto é trata-se de emprego por conta de outrem (61%);
  • Verifica-se a criação de cerca de 50 mil empregos não permanentes (contratos a termos e outros);
  • Ao mesmo tempo, registou-se uma diminuição na ordem dos 37 mil trabalhadores por conta de outrem com contratos permanentes (contratos sem termo); Ou seja, paralelamente ao aumento do emprego houve um processo de substituição de trabalhadores com contratos permanentes por trabalhadores com vínculos precários;
  • O número de trabalhadores familiares não remunerados (que constitui também um indicador de precariedade) aumentou 5,4 mil, o que representa um quarto do total do emprego líquido criado em 2013.

3. A análise da variação do emprego por sectores nos três primeiros trimestres deste ano permite verificar que quase todas as actividades económicas perderam emprego, com destaque para a educação e a construção. A criação de emprego apenas se verifica em nalgumas actividades de serviços, em que se destaca a variação de emprego no alojamento e restauração. Esta variação positiva está porém concentrada no 3º trimestre, pelo que é influenciada por factores de natureza sazonal (turismo).

         Variação do emprego em 2013 por sectores (trimestres, mil)

 

 

1º 2013

2º 2013

3º 2013

Var.

 

População empregada

- 98,6

72,4

48,0

21,8

 

Agricultura, p. animal, caça, floresta e pesca

- 33,7

46,2

- 16,5

- 4,0

 

Indústria, construção, energia e água

- 11,0

- 6,9

- 10,5

- 28,4

 

Indústrias transformadoras

- 18,1

10,2

1,6

- 6,3

 

Construção

2,2

- 11,2

- 13,0

- 22,0

 

Serviços

- 53,8

33,0

75,0

54,2

 

Comércio por grosso e a retalho

- 25,3

6,4

13,4

- 5,5

 

Transportes e armazenagem

0,8

2,4

6,7

9,9

 

Alojamento, restauração e similares

- 3,0

6,5

37,3

40,8

 

Ativ. de informação e de comunicação

- 3,6

- 3,5

14,1

7,0

 

Ativ. financeiras e de seguros

- 5,7

2,5

- 1,1

- 4,3

 

Ativ. imobiliárias

0,8

- 0,8

6,3

6,3

 

Ativ. de consultoria, científicas, técnicas

1,2

0,7

12,4

14,3

 

Ativ. administrativas e dos serviços de apoio

- 18,7

13,4

0,8

- 4,5

 

Administração Pública, Defesa …

5,3

3,1

7,2

15,6

 

Educação

- 16,7

0,4

- 30,7

- 47,0

 

Ativ. da saúde humana e apoio social

- 6,2

1,5

8,4

3,7

 

Ativ. artísticas, de espetáculos, desportivas…

2,4

- 2,3

3,3

3,4

 

Outros serviços

14,9

2,8

- 3,5

14,2

       Fonte: Calculado a partir de INE: Inquérito ao Emprego; variação face ao trimestre precedente

4. Em suma, a evolução do emprego líquido foi apenas de 22 mil, nos primeiros 3 trimestres de 2013 e não de 120 mil como o Primeiro-Ministro afirmou;

Os dados conhecidos indiciam que os empregos criados correspondem a empregos precários, de baixa qualidade, constituindo, na sua esmagadora maioria, uma ante câmara para novos despedimentos;

Os empregos criados, têm na generalidade, baixos salários e alguns nem remunerados são;

Decorrente da precariedade e dos baixos salários a média mensal do subsídio de desemprego continua a cair e a empurrar cada vez mais trabalhadores para a pobreza;

Aumenta o número de desempregados de longa duração e os que não usufruem de qualquer subsídio;

Se juntarmos a emigração, que entretanto ocorreu e outros factores como o efeito de medidas de políticas activas de emprego e de formação profissional (como o aumento de desempregados inseridos em contratos de emprego inserção, estágios e formação profissional), concluímos que o panorama do emprego não se alterou substancialmente este ano. Daqui decorre que o país continua refém de um modelo de baixo valor acrescentado, que importa ser alterado quanto antes. Para bem dos trabalhadores, da produção nacional, do desenvolvimento económico e social do país.

27.12.2013

DIF/CGTP-IN